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Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Olha o Leão 2p5u5a
São João da Boa Vista|cultura|17/05 10:45|76 visualizações
Devoro aos poucos o livro de contos de Tchekhov que meu irm&atildeo Clemente me deu. Preciso nomin&aacute-lo porque a prole &eacute grande.


Dos dez irm&atildeos, oito poderiam ter me dado a preciosidade. Toninho e Tarc&iacutesio, com meu pai e minha m&atildee, aram para outro plano.


Em testamento? Sim, verdade, mas n&atildeo o fizeram. Depois, testamento me lembra imposto a pagar. Arrepia. O exemplar, que tenho em m&atildeos, cheira &agrave tinta de offset, encadernado em capa dura e sa&iacutedo da Nova Fronteira. Traz o aviso: Edi&ccedil&atildeo Especial e Limitada. Para dizer a verdade, nos dias de hoje, n&atildeo acredito em edi&ccedil&otildees limitadas.


O boneco de antigamente fica guardado na nuvem. Como pode? E, se as vendas disparam, &eacute s&oacute dar um Ctrl+P. Pronto, num instantinho est&aacute nas m&atildeos dos leitores. Mas que leitores existem hoje?


Rodar as p&aacuteginas do TikTok &eacute muito mais emocionante do que as repletas de palavras. Frente &agrave televis&atildeo, controle em punho, pipoca ao lado, maratonar s&eacuteries e s&eacuteries, despreocupado com a vida. Isso, sem imaginar que o enredo esteve um dia impresso. Certamente, algum valor, t&ecircm. N&atildeo se irem, at&eacute a mais reles delas j&aacute foi um dia um projeto no papel. E algumas s&atildeo fant&aacutesticas.


Dia desses, assisti a um homem, no litoral espanhol, tomar um raio na cabe&ccedila e n&atildeo morrer. Ao contr&aacuterio, virou um super-homem capaz de ver o futuro e, pior, modificar o presente para que o futuro n&atildeo acontecesse. Que imagina&ccedil&atildeo t&ecircm certos escritores. Fico abismado. No mais, nem Gogol, que criou o homem que perdeu o nariz e saiu &agrave sua procura, acreditaria nas invencionices de hoje.


Leitura, TikTok, s&eacuteries: esta n&atildeo &eacute a realidade. Ela me aguarda, daqui a pouco, quando preencherei a declara&ccedil&atildeo do Imposto de Renda. A cada dia, mais faminto, mais insaci&aacutevel, mais perigoso. Diz um ditado: devemos ter velocidade para correr mais do que os nossos amigos, nunca conseguiremos correr mais do que o le&atildeo.


No caso do IR, n&atildeo acredito que adiante correr. Conto: n&atildeo sei se por descuido ou inconsciente desejo de calotear, n&atildeo paguei a &uacuteltima parcela do ano de 2024. Acredite se quiser mandaram-me um boleto preenchido com o valor acrescido de multa e juros. Ora, bolas, agora junta a parcela de 2024 com as novas de 2025. N&atildeo h&aacute Cristo que aguente.


Ficar&aacute para outra vez o jantar na Fam&iacuteglia Mancini. Enquanto o le&atildeo ruge na porta com seus boletos e juros, eu fecho o livro devagar&nbsp porque com Tchekhov, ao menos, a mordida &eacute sempre inteligente.
&nbsp
Fernando Dezena

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